BOAS FESTAS

 

           Boas festas!       

            O fim do ano se aproxima. Por alguma razão inexplicável, espera-se que a partir desse momento a felicidade se instale em todos os pontos da Terra.

            Tis the season to be jolly.

            Fosse apenas um desejo, uma aspiração, uma esperança, ah, que bom seria. Mas não. Ser feliz nessa época é quase uma obrigação.

            Não importa se o ano que passou trouxe com ele inúmeras provações. Tis the season to be jolly.

            Desemprego, amores rompidos ou corrompidos, disputas em família, luto. Tis the season to be jolly.

            Inveja, ciúme, ganância, arrogância, medo, insegurança. Tis the season to be jolly.

            Mesmo que o ano tenha sido bom, ainda que o ano não tenha sido ruim, sua despedida precisa superar todas as expectativas.

            Eu, particularmente, adoro as festas de fim de ano. Tenha tido um ano bom ou um ano ruim, aguardo sempre ansiosamente pelas festas, pelas confraternizações, pelas reuniões com amigos e família, pelas luzes piscando, pela cidade enfeitada, pelo clima festivo de minha alma.

            Caminho pelas ruas maravilhada por tantas cores, tanto brilho, tantos detalhes festivos. Árvores gigantescas, bonecos dançantes, iluminações provocativas, desafiando a decoração do ano anterior, buscando por olhares surpresos e sorrisos atrevidos.

            Sinto falta, sim, dos cartões que chegavam pelo correio. Enfrentava imensa fila para enviar todos os cartões que queria, mas cada cartão que chegava trazia uma sensação indescritível. Pensei em voltar ao tempo das cavernas e enviar novamente cartões de Natal para todos os meus amigos. Será que gostariam?

            Muitas pessoas reclamam que é tudo hipocrisia, que somente nessa época os indivíduos se tornam generosos e pensam nos famintos e necessitados. Eu já agradeço aos céus por, pelo menos nessa época, serem os famintos e necessitados lembrados, ou mesmo, notados.

            Ah, é só uma vez por ano. Mas eu digo, pelo menos é uma vez por ano.

            A realidade muda de acordo com os olhos de quem a vê.

            Portanto, para mim, o fim de ano é especialmente adorável.

            Isso não significa que eu esteja sempre feliz nessa época. De modo algum. Alguns anos são melhores do que outros. Alguns anos fico mais triste do que em outros. E tudo bem. Não tem problema.

            Ah, mas há, sim, um problema. Um sério problema. Tis the season to be jolly.

            Não há espaço para tristeza, para solidão, para descontentamento, para aflições, para lágrimas, para angústia, nem mesmo para o nada, para a neutralidade dos sentimentos.

            Tudo precisa ser especial, divino e maravilhoso. E quando a felicidade se torna uma obrigação, a infelicidade é certa.

            Um professor de psicologia aconselhou os formandos a semearem seus cartões em janeiro, mas não aguardarem os frutos até dezembro. Nessa época, a procura por psicoterapia aumenta consideravelmente, dizia ele.

            Fins de relacionamento se tornam mais dolorosos. Como passar as festas sem uma companhia amorosa? E o beijo da meia-noite no último dia do ano?

            Presentes? Como? O dinheiro nunca esteve tão curto. Estresse, preocupação, filas, aglomerações... como enfrentar o aumento dos preços sem aumento de salário?

            Obrigações inúmeras, com presentes, parceiros, família, mas a pior obrigação de todas: essa é época de sermos felizes. E esse é o segredo da sensação de fracasso que nos acomete sempre nesse período.

            Durante a pandemia, uma amiga muito querida precisou se isolar na noite de Natal, por suspeita de Covid. Dias depois, compartilhou com nosso grupo que foi uma experiência única, com muito mais significado, para ela, do que passar aquela noite em uma festa ruidosa, ainda que cercada das pessoas que amava. Foi uma noite de reflexões, de descobertas, de ligação entre seu mundo material e espiritual. Não foi uma noite de solidão. Foi uma noite de retiro.

            Outra amiga muito querida passa a meia-noite, seja de Natal, seja de Ano Novo, na terra de Morfeu. Os fogos de artifício não interrompem sua viagem de forma alguma. Dorme o sono dos justos.

            Repito, adoro as festas de fim de ano, porém, assim como essas amigas, não me obrigo a ser ou sentir nada além do que sou ou sinto o ano inteiro.

            O fim de ano é o reflexo do ano como um todo.

            Assim como o futuro é a consequência do presente, o fim de ano é a consequência de todo o ano que passou, é a planta que nasce das sementes que foram espalhadas entre cada tique taque do relógio. Nada além disso.

Se nada foi plantado, nada será colhido. E tudo bem.  

            Esteja sozinho ou acompanhado, alegre ou triste, cansado ou cheio de energia, o fim de ano é seu. Aproveite, ou não, como bem entender.  Não deixe que tradições ou imposições te arrastem para o buraco escuro das decepções simplesmente porque você descobriu que o Papai Noel não existe.

            Esqueça o Papai Noel e as renas voadoras. Faça do seu final de ano uma época que seja do seu agrado. Crie seu próprio céu e faça seus desejos para a sua própria estrela cadente. Enfeite-se com suas próprias luzes, comemore com o seu próprio fogo. Produza sua própria magia. As comemorações então dentro de você, não fora. Brilhe do jeito que você quiser. Seja você sua própria festa de Natal e Réveillon.

            Tis the season to be jolly free.

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